Em meio às atuais cobranças por um mercado de trabalho mais igualitário, diversos documentários propõem ampliar nossos horizontes, com narrativas sobre mulheres que lutam há décadas pelas mesmas causas, em diferentes culturas e grupos sociais. Por meio dessas obras é possível se aprofundar na compreensão dos obstáculos que ainda impedem a equidade de oportunidades, tratamento e salário, os quais vão muito além do machismo cotidiano, visto que há uma grande estrutura enraizada na mídia e educação, o que envolve ainda preconceitos de classe social, orientação sexual, identidade de gênero e cor de pele.
Para tornar seu repertório mais plural, selecionamos produções audiovisuais repletas de entrevistas, dados e análises sobre a realidade brasileira e de outras regiões do globo, conectadas por um tema geral: a necessidade de mudar a desigualdade que limita mulheres.
À luz do Dia – Emprego para Mulheres Trans, por quê não?
Elaine Coutrin assume a direção deste documentário ambientado nas ruas de São Paulo, o qual traz entrevistas com Laysa Machado, Renata Peron, Amara Moira, Priscila Valentina, Alice Rocha, Guilhermina Urze, Rafaela Neves e Symmy Larrat, que é coordenadora do programa Transcidadania, criado pela prefeitura de São Paulo.
A proposta é retratar os desafios de cidadãs com diferentes idades, experiências, formações e histórias de vida, mas, com um problema em comum: a percepção de que mulheres transexuais possuem grande dificuldade em conseguir um emprego formal no mercado de trabalho, causada pelo preconceito em nossa sociedade.
Miss Representation
O nome do documentário é um jogo com as palavras em inglês “miss” (senhorita) e “miss representation” (“falta de representatividade”). Como o título sugere, a proposta da obra dirigida por Jennifer Siebel Newsom é falar da representação problemática de mulheres na mídia, demonstrando as consequências negativas, principalmente para àquelas que alcançam cargos hierárquicos de influência.
Nancy Pelosi, Condoleezza Rice, Katie Couric, Jane Fonda, Geena Davis, Lisa Ling, Marissa Mayer, Cory Booker, Jean Kilbourne e Jackson Katz são algumas das entrevistadas neste documentário, que enfatiza a problemática para a formação de meninas líderes diante da enfatização da juventude, beleza e sexualidade como valores principais entre as mulheres.
Virou o Jogo – A História de Pintadas
O diretor Marcelo Villanova mostra em seu documentário como as mulheres de Pintadas, cidade do interior da Bahia, lutaram contra o machismo enraizado na região para conquistar maior igualdade e o direito de jogar bola.
O curta-metragem demonstra a relação direta da misoginia com as tradições culturais e organização social em meio aos depoimentos de diversas mulheres da região e trechos de uma partida de futebol feminino da cidade interiorana.
She’s Beautiful When She’s Angry
O documentário dirigido por Mary Dore é referência entre obras sobre o movimento feminista da década de 1960. A obra retrata diversos protestos norte-americanos do período de gravação, em 2014, trazendo cobranças atuais das mulheres que lutam por igualdade, um ponto de partida para o foco central da produção audiovisual: as feministas que lideraram o início de diversos questionamentos contemporâneos.
Ao longo de uma hora e meia, o documentário disponível gratuitamente na plataforma Tubi traz entrevistas com americanas que foram às ruas entre 1960 e 1970 em busca de direitos reprodutivos, igualdade de tratamento e salário no mercado de trabalho, visibilidade lésbica e outras demandas que seguem sendo exigidos até os dias atuais.
Feministas: o que elas estavam pensando?
Com direção de Johanna Demetrakas, o documentário é protagonizado pelas mulheres fotografadas por Cynthia MacAdams, em sua obra “Emergence”, compilado de fotos da coleção “Feminist Portraits 1974 – 1977”, expostas na década de 1980 pela galeria Steven Kasher, em Nova York.
Entre as feministas fotografadas que dão seus depoimentos para a produção Netflix estão Judy Chicago, artista plástica; Margaret Prescod, ativista; Phyllis Chesler, escritora; Michelle Phillips, cantora; Laurie Anderson, compositora; bem como as atrizes que protagonizam a série “Grace & Frankie”, Jane Fonda e Lily Tomlin. A proposta da obra é trazer declarações de mulheres da segunda onda feminista sobre a luta por igualdade, detalhes do momento registrado nas fotos e reflexões atuais sobre a causa.
Sagradas – O Filme
Daniela Paixão, Isabella von Haydin e Leandro Veneza são os diretores deste documentário que acompanha Erika Hilton e Jacqueline Chanel. Ambas são ativistas que lutam pela visibilidade trans no país. Hilton atua na política, enquanto Chanel é a líder religiosa responsável pela Caminhada Trans.
A proposta da produção de cerca de 15 minutos é retratar a luta individual de cada uma das ativistas e, em seguida, intensificar a necessidade de luta pelos direitos da comunidade trans através do encontro entre as duas na Caminhada que ocorreu em janeiro de 2020.
Lélia Gonzalez – Feminismo Negro no Palco da História
O documentário de 20 minutos é parte do Projeto Memória, desenvolvido pela Fundação Banco do Brasil, com a proposta de homenagear Lélia Gonzalez, uma das vozes mais importantes na história do feminismo negro no país.
A ativista fez graduação em história e filosofia, mestrado em comunicação social, doutorado em antropologia política com pesquisa em gênero e etnia, foi candidata aos cargos de deputada federal e estadual pelo Partido dos Trabalhadores, professora e membro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM). Além disso, auxiliou na fundação das instituições Movimento Negro Unificado (MNU), Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), Coletivo de Mulheres Negras N’Zinga e o Olodum.
Em 1983, Gonzalez publicou um artigo no jornal Folha de S. Paulo que causou repercussão polêmica em todo o país, com o título “Racismo por Omissão”. O texto foi apenas um dos ensaios publicados pela intelectual, que também possui três livros escritos em meio a um cenário de difusão dos movimentos sociais e ditadura política.
Daughters of Destiny
A série documental mostra o desafio e necessidade de iniciativas como a Shanti Bhavan School, um colégio interno que foi construído para educar crianças e adolescentes de comunidades pobres da Índia, regiões com altos índices de privação do acesso à escolaridade.
A obra, dirigida por Vanessa Roth, ganhadora do Oscar de curta-metragem por “Freeheld”, traz entrevistas que retratam a realidade da administração do projeto, porém, foca no cotidiano de cinco estudantes da instituição. Dessa forma, a produção da Netflix reforça o desafio educacional em um país com forte desigualdade de gênero no mercado de trabalho, intensificado pela existência de castas na organização da sociedade.
Mulheres Negras: Projeto de Mundo
Djamila Ribeiro, Ana Paula Correia, Aldenir Dida Dias, Preta Rara, Nenesurreal, Francinete Loiola, Luana Hansen, Monique Evelle e Andreia Alves, nove feministas negras populares no Brasil, apresentam suas histórias de vida e experiências no mercado de trabalho.
Os depoimentos sobre raça, gênero e classe de cada uma delas é intercalado por uma performance artística, uma intervenção sensível que torna o documentário de Day Rodrigues em parceria com Lucas Ogasawara ainda mais cativante.
The Judge
Reconhecido pela revista Variety como um dos 10 melhores documentários de 2017, a produção dirigida por Erika Cohn acompanha a juíza Kholoud Al-Faqih, primeira mulher muçulmana a conseguir o cargo. A obra retrata os desafios que ela enfrentou na profissão devido ao machismo no mercado de trabalho da região palestina.