A literatura, assim como todas as formas de cultura e arte, assume um papel essencial para educar e sensibilizar a sociedade. Por isso, selecionamos obras de ficção, teoria e crítica, todas girando em torno de um mesmo tema: o feminismo.
Independentemente se você está procurando se atualizar sobre os princípios básicos do movimento, ou se pretende entender melhor algum problema enraizado socialmente, ou ainda se você prefere empatizar com uma obra contada de maneira mais sensível como um “memoir” – isto é, uma coleção de memórias que um indivíduo escreve sobre momentos ou eventos, que ocorreram em um certo momento na vida do autor – a seleção abaixo certamente vai te inspirar para se aprofundar nestes assuntos.
Eu tenho um nome, Chanel Miller
Chanel Miller retrata neste memoir, de forma extremamente emocionante, a sua dor e a de tantas mulheres abusadas sexualmente, que buscam o caminho da justiça para reparar o trauma e se veem muitas vezes presas em uma armadilha de humilhações, vergonha e sofrimento.
Ela ainda não era conhecida pelo próprio nome quando surpreendeu milhões de pessoas com uma carta relatando o estupro que havia sofrido no campus da Universidade de Stanford. Publicada no BuzzFeed, a declaração da vítima foi vista por onze milhões de pessoas em apenas quatro dias, traduzida para diversos idiomas e lida no plenário do Congresso americano, inspirando mudanças na lei da Califórnia e a demissão do juiz do caso. Brock Turner, o acusado, foi condenado em 2016 a apenas seis meses de prisão depois de ser flagrado agredindo-a sexualmente.
Agora Chanel Miller reivindica a própria identidade para contar sua história, que evidencia uma cultura que protege os agressores e expõe um sistema de justiça criminal falho com os mais vulneráveis, mas mostra também a coragem necessária para lutar contra a opressão e atravessar o sofrimento.
Vozes Femininas, Zoë Sallis
Um livro inspirador, que poderia estar na cabeceira de cama de todas as mulheres. Escrito como uma forma de conhecer personalidades femininas e trazer inspiração e motivação para novas gerações de mulheres, “Vozes Femininas” faz uma interessante abordagem ao entrevistar quarenta mulheres e lhes perguntar sobre suas histórias, ideias, experiências, traumas, aspirações, família, etc. Ao dar-lhes espaço e voz, a autora consegue pluralizar as vozes e, consequentemente, fazer o leitor refletir sobre o mundo e sobre os diferentes recortes sociais para cada uma delas.
Na Casa dos Sonhos, Carmen Maria Machado
Muito real e dolorido, Carmen Maria Machado aborda “Na Casa dos Sonhos” sua experiência traumática ao ter vivido um relacionamento abusivo com uma ex-namorada. A estrutura do livro é peculiar e interessante, isso porque trata-se de um trabalho experimental em que a autora, por meio de uma coleção de textos, perpassa a memória literária, a política, a cultura pop e a história cultural, entre outros temas, para articular a experiência. Traçando um arco narrativo que vai desde o início cheio de promessas até o final difícil e confuso, deixa marcas impossíveis de ignorar.
Mulheres Raça e Classe, Angela Davis
Este livro é essencial para todos. Quando buscamos entender as nuances das opressões e a necessidade de um feminismo interseccional, Angela Davis nos mostra como a mulher negra foi desumanizada, fala sobre a escravidão e todos os seus efeitos, nos dando dimensão para entendermos a necessidade de debater e entender a questão racial. Além disso, a autora mostra a necessidade da não hierarquização das opressões, ou seja, o quanto é preciso considerar a intersecção de raça, classe e gênero para possibilitar um novo modelo de sociedade.
Síndrome da Impostora, Rafa Brites
Rafa Brites retrata em “Síndrome da Impostora” toda a sua trajetória para entender seu sentimento de fraude e insuficiência. Diante disso, a autora começou a entender seus gatilhos, estudar mais sobre o tema e escreveu um livro sobre o assunto, com o intuito de ajudar outras mulheres a administrarem a sensação, e, principalmente, disseminar mais informações sobre.
Calibã e a bruxa, Silvia Federici
Geralmente, quando se fala das origens do capitalismo, quase todas as bases teóricas usadas são Marx e Foucault – homens que estudaram as formas pelas quais o sistema se impôs sobre a sociedade e sobre os corpos, respectivamente. No entanto, Silvia Federici decidiu trazer seu próprio olhar feminino acerca do tema. A historiadora italiana passou trinta anos em busca desse feminino ausente e sua conclusão foi materializada no livro “Calibã e a bruxa”, que busca investigar o que houve com as mulheres durante a lenta e gradual instalação do capitalismo – e que coloca a caça às bruxas como o grande evento responsável por aniquilar a participação, a força e a resistência femininas, que até então eram comuns nas comunidades praticamente do mundo inteiro.
Sejamos todos feministas, Chimamanda Ngozi Adichie
Um livro para todas as idades, “Sejamos todos feministas” de Chimamanda Ngozi Adichie, convida o leitor a refletir sobre o que significa ser feminista no século XXI. Quando ouviu essa palavra pela primeira vez, Chimamanda ainda era criança e morava na Nigéria, país em que nasceu. Desde então, ela pensou muito sobre o termo – e sobre os direitos das mulheres no mundo. Anos mais tarde, ela compartilhou suas reflexões sobre igualdade a todos, homens e mulheres, e você as encontra neste livro – ideal para crianças, jovens e adultos.